quarta-feira, 29 de junho de 2011

O problema que eu quero ter...

Todos buscamos aquela pessoa especial que é certa para nós. Mas quando já passamos por relacionamentos suficientes, começamos a desconfiar que não existe a pessoa certa, apenas gostamos das pessoas erradas. Por que é assim? Porque nós mesmos somos errados de algum modo, e buscamos parceiros errados de algum modo complementar. Mas é preciso muita vicência para crescer plenamente em nossa inadequação. Só quando nos vemos diante de nossos demônios mais profundos - nossos problemas insolúveis, os que nos tornam verdadeiramente o que somos - estamos prontos para encontrar o parceiro de toda a vida. Só então sabemos finalmente o que estamos procurando. Vivemos à procura da pessoa errada. Mas não apenas qualquer uma: a pessoa errada "certa" - alguém a quem olhamos com amor e pensamos : "Este é o problema que eu quero ter." Encontrarei essa pessoa especial que é errada para mim do jeito certo...


Daniele Steel

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Na própria pele

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo convivendo com tantas perguntas que o tempo não respondeu e com a ausência de qualquer garantia de que ele ainda responda. É me sentir confortável, mesmo entendendo que as respostas que tenho mudarão, como tantas já mudaram, e que também mudarei, como eu tanto já mudei.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo sentindo que cada vez mais eu sei cada vez menos, e não saber, ao contrário do que já acreditei, pode nos fazer vislumbrar uma liberdade incrível, às vezes. Tem saber que é nítida sabedoria, que fortalece, que faz clarear, mas tem saber que é apenas controle disfarçado, artifício do medo, armadilha da dona autosabotagem.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo percebendo que a minha vida não tem lá tanta semelhança com o enredo que eu imaginei para ela na maior parte da jornada e que nem por isso é menos preciosa, a minha imaginação, por mais longos que sejam seus braços, não alcança o verdadeiro propósito que move a minha existência, esse que às vezes intuo, mas, de verdade, não sei. É me sentir confortável, cabendo sem esforço e com a fluidez que eu souber, na única história que me é disponível, que é feita de capítulos inéditos, e que não está concluída: esta que me foi ofertada e que, da forma que sei e não sei, eu vivo.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir. É me sentir confortável, mesmo sentindo uma saudade imensa de uma pátria, aparentemente utópica, onde os seus cidadãos tenham ternura, respeito e bondade, suficientes, para ajudar uns aos outros na tecelagem da paz e no desenho do caminho.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. Estarmos na nossa própria pele não é fácil e essa percepção é capaz de nos humanizar o bastante para nos aproximarmos com o coração do entendimento do quanto também não seria fácil estarmos na pele de nenhum outro. Por maiores que sejam as diferenças, as singularidades de enredo, as particularidades de cenário, não nos enganemos: toda gente é bem parecida com toda gente. Toda gente é promessa de florescimento, anseia por amor, costuma ter um medo absurdo e se atrapalhar à beça nessa vida sem ensaio.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável o suficiente para cada vez mais encarar os desconfortos todos fugindo cada vez menos, sabendo que algumas coisas simplesmente são como são, e que eu não tenho nenhuma espécie de controle com relação ao que acontecerá comigo no tempo do parágrafo seguinte, da frase seguinte, da palavra seguinte. É me sentir confortável o suficiente para caminhar pela vida com um olhar que não envelhece, por mais que eu envelheça, e um coração corajoso, carregado de brotos de amor.

 Ana Jácomo

terça-feira, 14 de junho de 2011

A arte no ócio

No fim do dia, é importante esvaziar a sua mente e deixar os pensamentos passear um pouco.

Mesmo que você esteja cansado, dê a si mesmo uma oportunidade de ‘voltar para casa’ antes que você adormeça. Traga sua atenção de volta para a Terra, literalmente. Ou seja: fique perto do chão.

Arranje uma cadeira baixa – um par de travesseiros, um banquinho para os pés ou um toco de árvore também servirão – e desça mais ou menos um metro de altura, de modo que seus olhos fiquem no nível do seu umbigo quando você estava de pé.

O que acontece a seguir chama-se ‘ócio’.

Exige que você fique largado por um tempinho e espere que a cabeça volte a funcionar. Não se mexa até que seu cérebro esteja a salvo em seu crânio.

Entregar-se ao ócio à noite é uma atividade privada, mesmo se você estiver entre amigos ou com a família. É uma das araras atividades comunitárias que lhe permitem ficar sozinho, se quiser, sem que ninguém interfira ou o acuse de ser ‘bicho-do-mato’.

Você pode se sentar na varanda ou num canto da sala, balançando para frente e para trás numa rede, enquanto o restante da família conversa a uns metros de distância.

Pode ir beber com os amigos no bar, mas, em vez de falar, deixe que o murmúrio do lugar se espalhe e chegue aos seus ouvidos como ondas do mar se quebrando na praia. Ou então, depois de os filhos irem para a cama, você pode se afundar na sua poltrona favorita e curtir o silêncio da noite.

O ócio requer paciência, embora seja difícil se acomodar confortavelmente numa espreguiçadeira, por exemplo. Ironicamente as espreguiçadeiras são tudo, menos fáceis...Foram cuidadosamente planejadas para que você não consiga se levantar.

Tente ficar de pé: o ângulo do assento puxa você para trás. Ou agarre-se aos braços da cadeira: eles cedem. E quando você se inclina para frente para se libertar das almofadas, sua cabeça não é contrapeso suficiente para seus quadris.

A grelha pélvica é a estrutura óssea mais pesada do corpo humano – pesa bem mais que a cavidade craniana. Uma vez rebaixada, é como se você tivesse lançado uma âncora.

É exatamente o que você precisa para impedir seus pensamentos de saírem por aí.

Mais ainda: um bom momento de ócio ajuda a alterar seu ponto de vista. Em vez de ‘manobrar’ numa camada de realidade a quase dois metros do chão, agora você pode lidar com um submundo a apenas meio metro dos seus dedos dos pés.

Você passa a ver o cenário em que está de um novo ângulo e observa coisas que normalmente ficam escondidas: o interior do abajur, as lombadas de livros velhos relegados às prateleiras de baixo, a tinta descascando no parapeito das janelas. Sem perceber, você se flagra concentrado no puxador de latão de uma gaveta, espantado com o artesanato da peça. Curiosa como um gato, sua mente o ajuda nessa investigação. Conta os parafusos que prendem o puxador. Só três! Falta um.

Logo você se sente tentado a levantar e checar se existe um parafuso sobrando na caixa de ferramentas, mas a maldita cadeira o mantém no lugar. E assim você se afunda ‘só mais um pouquinho’ e continua sua contemplação silenciosa.

Tal como a água desgasta as pedras, a contemplação acaba com as tensões.


ACALME SUA INQUIETAÇÃO

Sossegar a atividade mental não é nada fácil. Bem, você já conseguiu trazer a mente de volta à Terra. Agora vem a parte mais difícil.

Se continuar sentado, terá uma boa oportunidade de deixar que suas idéias, conjecturas e observações se resolvam por si. Alguns de nossos melhores ‘insights’ acontecem quando nosso consciente está de folga.

Isaac Newton descobriu a Lei Universal da Gravidade sentado embaixo de uma árvore. Benjamin Franklin inventou o pára-raios quando empinava uma pipa. Thomas Edison bolou os filamentos da lâmpada elétrica enquanto limpava as mãos com querosene, na maior calma. Albert Einstein ponderava sobre os enigmas do Universo acariciando um gatinho no colo.

Portanto, não se mexa. Contribua com a ciência. Fique de bruços o mais que puder.

Para resistir à tentação de se levantar, passe para o tempo geológico. Com seu centro de gravidade próximo do chão, você bem que podia ser uma cadeia de montanhas: seu corpo, uma sucessão de topos e vales; seus pés dois promontórios no extremo de uma península.

Deixe seus pensamentos circularem pelos altos e baixos do relevo. Não precisa temer, desnude o que está na superfície e exponha o cerne de seus sentimentos.

Anthar:

A MANEIRA PERFEITA DE PASSAR UMA MERECIDA TARDE OCIOSA É ‘ESTICAR-SE’, DE CORPO E ALMA. APROVEITE DE VEZ EM QUANDO, POR FAVOR E POR AMOR.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A arte de não fazer nada

APRENDIZADOS FUNDAMENTAIS SOBRE A ARTE DE NÃO FAZER NADA
(leitura obrigatória para os Seres de Luz encarnados)

(...) “Enquanto vocês vivem esperançosamente no conhecimento de que seu despertar na total consciência está divinamente decretado e garantido, vocês experimentarão dias em que sua energia estará baixa, e sua falta de motivação parecerá tê-los deixado sem propósito.

Quando isto ocorrer, saibam que sua energia está sendo bem utilizada nos reinos espirituais, e apesar da enorme assistência que vocês recebem deles, mesmo assim é esgotante para seus corpos; e como vocês experimentam pouco retorno, isto pode ser bastante depressivo.

Nos dias em que se sentirem assim, sejam gentis consigo mesmos e perdoem-se por quaisquer pensamentos de julgamento que vocês possam ter a respeito de suas aparentes imperfeições.

Esta é simplesmente uma fase muito exigente e ela passará, portanto, não se repreendam, e sim dêem uma parada e divirtam-se. Se vocês se abstiverem do autojulgamento e se aceitarem tal como vocês são (e como Deus sempre faz) vocês se sentirão muito melhor, apesar de que seu ego pode muito bem tentar desencorajá-los de fazer isso”.

Anthar - O trecho acima é de uma mensagem de Saul, escrita em 25/5/2011 (http://johnsmallman.wordpress.com/) e eu quero fazer hoje uma ‘brincadeira experimental’ e misturar um pouco as idéias, para aclarar muitas coisas em nosso dia-a-dia (paradoxo?...).

Ou seja, vou conversar com alguns seres de luz – encarnados ou não – e deixar que eles nos orientem de uma maneira diferente. É. É isso. Vou brincar. E quem quiser, que me acompanhe – vai ser bom... Procurem não analisar. Simplesmente vão lendo.

Assim, Veronique é uma amiga minha que eu nunca vi. Mas isso não importa, pois vejam o que ela escreveu em certo tempo de sua vida:

“Sempre que a família, os amigos, os que nos querem bem sugerem que a gente ‘relaxe’, ‘respire fundo’ ou ‘dê um tempo’ por uns dias, não levamos muito a sério, ou até protestamos.

Ah...diminuir o ritmo leva muito tempo. Numa geração de ‘gente que faz-faz-faz’ dedicamos nossas vidas a fazer tudo para que as coisas aconteçam. Sentimos, muito apropriadamente, que não há nada que não se possa fazer – a não ser, claro, NÃO FAZER NADA.

Para nós, o estado de não fazer nada é o limite extremo, o máximo dos luxos, o sonho impossível. Mas será possível que só tenhamos procurado por esse nada nos lugares errados?

A paz de espírito não é uma flor exótica e rara que só floresce nas ilhas desertas ou no topo das montanhas. O relaxamento é, na verdade, uma planta nativa, que cresce bem ali no seu quintal – e resistente, por sinal. Nunca desiste, ainda que você tente arrancá-la pela raiz.

Este livro foi feito para ajudá-lo a cultivar as sementes da serenidade. No seu dia-a-dia. Enquanto você respira. Ou escuta. Ou espera. Durante a refeição ou no meio do trânsito. Quando você corre para pegar um avião ou tem medo de não cumprir um prazo.

Obviamente você não precisa ouvir uma palestra sobre os benefícios do relaxamento. Mas...a sua mente tem que ser convencida disso. Você tem que argumentar com sua razão para convencê-la de que, para o próprio bem dela, é preciso abrir mão do controle de vez em quando.

Se você não prevalecer sobre seu cérebro, irá se sentir com culpa, assim que ‘puser os pés para cima’. Portanto, continue a ler. Nestas páginas estão os argumentos de que você precisa para curtir uma boa folga.


PRIMEIRA LIÇÃO: A ARTE DE PROCRASTINAR

Anthar - Ou, em português popular: ‘a arte de deixar para amanhã o que dizem que você ‘tem que’ fazer hoje, porque ‘senão’...

Em confronto com uma superfície lisa, a água sempre faz os seus rodeios. Mesmo que não haja obstruções, um fluido invariavelmente acaba criando contornos, voltas. Um dos elementos mais abundantes da Terra, a água é também o maior componente do nosso corpo. O mundo é constituído de 70% de água. Nós também.

Não parece surpreendente, então, que os seres humanos tendam a vadiar assim que se encontram num ambiente sem pressões. Para nós, assim como para a maioria dos organismos vivos na natureza, o caminho da menor resistência é uma sucessão de lânguidas curvas.

Procrastinar (adiar) é inato. É uma força invisível que conduz os rios como serpentinas, leva correntes subterrâneas por caminhos sinuosos e ribeiras nascentes em cursos cheios de desvios serpenteantes – e deixa você e eu, ao sabor do acaso.

Para que servem essas variações, ninguém sabe. Mas, com certeza – pelo menos para muitas pessoas – existem vantagens infinitas em ‘fazer rodeios’.

Por um lado, isso leva você a lugares que de outra forma não iria. Também o leva a fazer coisas que deveriam ter sido feitas há muito tempo. Em vez de pagar as contas, por exemplo, você resolve arrumar a gaveta de meias. Em vez de consertar a porta da garagem, dá banho no cachorro. E que tal trabalhar naquele livro? Sim,mas você quer primeiro arrancar a cera do chão da cozinha...

Bom, talvez procrastinar (deixar para ‘depois’) seja a maneira que a natureza encontrou para arrumar a bagunça e limpar os caminhos.

É uma pena que a maioria de nós adie o ‘espairecer’ até sábado ou domingo. Ao fazer isso, transferimos a pressão para o fim-de-semana. 'Procrastinar o planejado' cria outra forma de obrigação...

Por isso, tente ‘desperdiçar tempo’ no momento que lhe agrada, numa quarta ou quinta feira. Depois – bem depois – quando você pegar o jeito, vai ser capaz de vadiar até numa segunda feira.

Anthar - Que maravilha!! Que a Luz os guie para isso!
Inicie a prática da procrastinação (deixar para ‘depois’) em casa. Aprenda primeiro a vagabundear entre quatro paredes, antes de se aventurar porta afora. E como desacelerar envolve um bocado de ziguezagues, trate de usar sapatos confortáveis – um bom par de tênis – para obter tração suficiente.

Anthar - Rsrsrs... Imagine-se bem ‘solto’. Consegue?

Pare de ler o último parágrafo de todo artigo que parecer importante. Mas também não se anime demais. Interrompa-se de vez em quando para olhar pela janela, ajeite as almofadas ou escove os dentes.

Permita-se abandonar qualquer atividade no meio. Aceite de bom grado a vontade de checar se o aspirador precisa de um novo saco de pó. Não se preocupe – provavelmente você nem vai chegar até a área de serviço. Dez minutos mais tarde, será capaz de vasculhar sua coleção de postais, procurando por aquele que você escreveu da Itália e nunca mandou porque os correios estavam em greve.

Enquanto estiver remexendo, a idéia de ter ligações celulares para retornar, cartões de agradecimento para escrever, recados para dar e dinheiro para ganhar talvez assuste você. Não se atreva a mover os calcanhares. Tire vantagem do efeito antiderrapante de seus tênis para resistir à tentação de sair correndo como um alucinado.

Uma hora de procrastinação equivale a uma hora de ginástica.

Claro que arrastar os pés parece muito mais fácil do que levantar pesos. Mas não se deixe enganar pelas aparencias. Reprimir os ‘impulsos produtivos’ dá tanto trabalho quanto se entregar a eles. Assim como os exercícios isométricos de baixo impacto envolvem contrações musculares muito pequenas mas tonificam incrivelmente os músculos, exercitar-se contra a inflexível pressão dessa culpa que você se impõe já ajuda a queimar calorias.

Para testar essa teoria, fique ao lado de uma pilha de cartas não abertas. Decida não conferir o que há dentro delas. Pode ser que uma contenha o cheque do reembolso do seguro que você estava esperando ou a terrível notícia do cancelamento da sua TV a cabo. E então?

Esqueça os envelopes, por favor.

Anthar: ai que delicia, ver tudo aquilo que era ‘preciso’ fazer...e não fazer! É uma sensação boa demais! Não a estrague sentindo culpa, por favor!

Sinta a tensão no seu corpo enquanto você hesita. Quer dar só uma espiada? Não. Não desista. Enquanto agüenta firme, leve em conta o seguinte: não abrir cartas é o mesmo que praticar queda-de-braço com uma das forças mais poderosas do universo: a ética puritana do trabalho.

(...) É um triste comentário sobre a natureza humana, mas as pessoas em geral preferem trabalhar das oito às seis do que se ocupar, de vez em quando, parando para uns intervalos.

A nova economia do dinheiro no sec. XII anunciou o inicio dos tempos modernos e o fim da era das cirandas. Contudo, com um pouquinho de imaginação, você ainda pode ‘cirandar’ (como dizia Thoreau), pescando, tirando uma folga ou pegando um cineminha.

Não deixe que as atividades mercenárias tomem conta da sua vida. Mostre ao sistema feudal que há muito mais na busca da felicidade do que em um ‘emprego certo’, ou em um ‘horário rígido’ ou em receber um contracheque polpudo.


A ARTE DE RESPIRAR

“Birds do it...” cantarolava Cole Porter. Os pássaros fazem. “Bees do it”. As abelhas fazem. A gente faz: exalamos e liberamos para a atmosfera dióxido de carbono, um elemento que promove o crescimento das plantas e impede a radiação solar de retornar ao espaço. Com a nossa respiração, preservamos o planeta de se tornar um deserto.

Anthar – Simplesmente respirando. Simplesmente...Tudo é sempre muito simples.

Aparentemente , uma de nossas funções na Terra é a de jardineiros – guardas involuntários de um frágil ecossistema. Podemos até causar estragos no ambiente, de outras formas, mas quando esvaziamos os pulmões ajudamos a grama a ficar mais verde.

Por alguma razão, na nossa cultura, existe muito mais ênfase na inspiração do que na expiração. Enquanto associamos o ‘receber oxigênio’ a fazer ‘algo bom e útil' para nós mesmos, exalamos dióxido de carbono clandestinamente, quase como se estivéssemos ‘levando o lixo para fora’, rápido, de nariz tapado e boca aberta.

Sempre com pressa, quase não sentimos prazer em relaxar o peito, limpar nossas vias respiratórias e enviar algum gás carbônico sem cor para a imensidão azul.

Para respirar profundamente e sem esforço,não espere para exalar. Pense em respirar como uma ‘doação’, não como um recebimento. Apenas diga a você mesmo que vai encher os pulmões de modo a expelir o máximo de ar possível. Não seja pão-duro, doe um grande suprimento de dióxido de carbono. Faça a parte que lhe cabe, na promoção da fotossíntese.

Mentalize uma das suas arvores favoritas e dê às suas folhas a oportunidade de produzir algum oxigênio classe A, do tipo ‘top de linha’.

Antes mesmo de você perceber, seu peito incha, sua caixa torácica se alarga e seus ombros relaxam. No exato momento em que você acha que a sua câmara pulmonar está lotada, os lobos na parte posterior se abrem como pequenos pára-quedas. É o êxtase mais fácil que você experimentou nos últimos tempos – mas não é nada comparado com aquele delicioso sentimento de se ‘afundar’ enquanto respira.

Poucas coisas na vida dão tanto prazer quanto esse longo e suave mergulho na serenidade.

É mais sábio não forçar a respiração profunda: o mecanismo involuntário que regula a troca de elementos químicos entre o nosso sangue e a atmosfera é disparado por uma série de respostas neurológicas muito complexas, tanto para estímulos externos quanto internos. Os controles centrais da respiração estão no cérebro , ou seja, é mais simples alterar o modo como pensamos sobre o ato de respirar do que forçar a caixa torácica a se expandir.

Está tudo na sua cabeça.

Imagens mentais afetarão muito mais seus padrões de respiração do que cargas de abdominais, contrações do diafragma, exercícios de ioga ou aquelas inalações de oxigênio que viraram moda certo tempo atrás.

Quando você dá um suspiro de alivio, é o seu corpo que sorri.

Prestar atenção na respiração é como percorrer uma corda bamba que liga nossa mente consciente ao universo inconsciente. Tente fazê-lo e experimente a inebriante vertigem da atenção. Mas vá com calma: não é fácil permanecer no aqui e agora da autopercepção.

• Fique ao lado da janela e olhe para o horizonte para diminuir as distrações visuais.

• Repare como as suas duas primeiras respirações são superficiais – mas resista à tentação de aumentar o volume de ar que inspira.

• Suas próximas inspirações serão provavelmente mais profundas. Como uma série de suspiros involuntários. É o que se chama de prana, em sânscrito e pneuma em grego – a impressão de que o Universo respira através de você.

• Assim que inspirar pela quinta ou sexta vez, sua mente vai começar a vaguear. Não se preocupe. Deixe a ausência de formas dos seus pensamentos preencher o vazio do seu peito.

• Não espere o êxtase da autoconsciência já na sétima ou oitava inspiração. Assim como respirar, a autoconscientização é um processo de ser e não ser. Nós inalamos e exalamos. Do mesmo modo que lembramos e esquecemos.

Extrato.